Objetivo:
A severidade da crise americana em 2008 trouxe o temor de um forte contágio negativo para o resto do mundo. As autoridades americanas adotaram, entre outras medidas, uma política monetária agressiva com forte redução das taxas de juros nominais e expansão monetária. Isto teria gerado uma forte pressão para depreciação da moeda americana frente a moedas cujas taxas de juros domésticas não acompanharam tal movimento. No caso em que os países acompanharam tal redução ou que mantiveram suas taxas de juros inalteradas e optaram por acumular reservas para evitar a apreciação de sua moeda acabaram ‘importando’ pressões inflacionárias. Alguns autores argumentam que os Estados Unidos estariam tentando utilizar sua política monetária para gerar uma depreciação de sua moeda e com isto criar um estímulo de demanda agregada que contribuiria para tornar a recessão interna mais curta e menos intensa. Tal política gera repercussões no resto do mundo e há uma discussão em que medida tais efeitos seriam deletérios.
O mecanismo pelo qual a política monetária operaria seria via depreciação da taxa de câmbio real americana frente a seus parceiros importantes. Caso o efeito sobre os demais países fosse deletério, estes tentariam utilizar mecanismo a sua disposição para evitar que a moeda local se apreciasse. Seria configurada uma política denominada na literatura como “beggar thy neighbor”, em que os países tentariam evitar a apreciação de sua moeda para evitar internalizar os custos de uma política monetária deliberadamente expansionista (“quantitative easing”).
Num ambiente intertemporal em que os custos e benefícios de uma política devem ser avaliados não só pelos efeitos de curto prazo, mas também pelo efeito de longo prazo em produto, inflação e bem-estar dos países, o comportamento estratégico dos países deve ser analisado para avaliar em que condições valem a pena para um país adotar uma estratégia de promoção de uma política monetária excessivamente frouxa para tentar obter ganhos de curto prazo em termos de atividade econômica e estar exposto a sofrer algum tipo de retaliação dos demais parceiros. Cabe analisar em que situação é ótimo aos parceiros de um país não retaliar e aceitar os custos de uma depreciação como melhor estratégia.
No caso de um país pequeno talvez, a estratégia de tentar retaliar não seja a melhor resposta na medida em que se torna muito difícil causar danos significativos ao país líder e logo tal política seria ineficaz. O principal mecanismo pelo qual a política monetária agiria seria via desvalorização da taxa de câmbio e ao país seguidor seria difícil com sua própria política monetária contrabalançar os efeitos para apreciação cambial. Turnovsky, Basar et al. (1987) é um exemplo de trabalho em que a interação estratégica é formalmente analisada.
Dado que o mecanismo pelo qual a política monetária frouxa opera é através de uma depreciação excessiva da moeda do país e que a duração é o mecanismo pelo qual as exportações líquidas reagiriam no curto prazo gerando um ganho de demanda agregada e suavizaria flutuações do produto em torno de seu nível potencial, algumas questões empíricas se seguem: a) em que medida uma política monetária é capaz de gerar um movimento de desalinhamento cambial expressivo; b) qual a duração do mesmo; c) desalinhamentos expressivos de um país podem ser rapidamente contrabalançados por políticas similares dos parceiros comerciais relevantes ao país, ou dito de outra forma que o desalinhamento cambial de um país é acompanhado de desalinhamentos em direção contrária em quais países; d) quais os efeitos em termos de bem-estar de tais políticas (Turnovsky, Basar et al. (1987)) e e) em que medida políticas cambiais geram estariam na gênese de crises cambiais (Glick e Rose (1998)).
O presente projeto visa avaliar empiricamente qual a interpendência existente entre os desalinhamentos cambiais dos diversos países. Para isto utiliza-se de um modelo de cointegração multivariado para um amplo conjunto de países modelados simultaneamente.
Centro Envolvido: CEMAP
Financiamento: BNDES